segunda-feira, 30 de março de 2009

Até quando?



Não há mais como esperar

Evelyn Rosenzweig


"Onde isso vai parar?" Perguntou Marcelo José de Souza Luiz Viana, mais uma vítima da violência que assola a cidade do Rio de Janeiro, que no dia 4 de março, junto com sua namorada, graças a forças divinas, não perdeu a vida.

"Isso não vai parar!", respondo ao advogado, com muita propriedade e tristeza. Sou uma das quatro filhas de outra vítima desta nefasta violência urbana, mas que, infelizmente, não foi agraciada pelas forças divinas com a sobrevivência do nosso amado e querido pai, avô, bisavô, sogro, tio, irmão e amigo, assassinado friamente em maio de 2008, em pleno Centro da cidade. Nós aceitamos a decisão de Deus, mas não nos conformamos.

Há anos, antes mesmo de ser vitimada por esta tragédia, venho lutando por uma política clara, séria e eficaz de segurança pública para a cidade do Rio de Janeiro. Por isso, posso afirmar que isto só vai parar quando o assunto política de segurança pública for tratado com a emergência que a situação exige. Não dá mais para esperar! Tratar desta questão passa pelo investimento profundo e estrutural de toda polícia e assuntos correlacionados ao tema. Refiro-me a mudanças que, certamente, vão contrariar muitos interesses: seja na reintegração à corporação da Polícia Militar de policiais que estão à disposição de órgãos e autoridades públicas promovendo seguranças privadas pagas com o dinheiro do contribuinte, seja na determinação política do governo e parlamentares em dar a resposta certa aos poucos, mas nocivos policiais corruptos que denigrem a imagem das instituições de segurança pública do nosso estado, seja na reformulação e reavaliação das complexas escalas de serviço, seja na concessão de salários, condições de trabalho e moradias dignos de quem sempre coloca sua vida em detrimento da população a quem defende e, finalmente, na aquisição de equipamentos básicos de segurança pessoal para o policial que se expõe diariamente às ações de bandidos, tais como rádios de comunicação, coletes a prova de bala para uso diário pelas ruas que policiam etc.

Equacionar a questão de segurança pública exige determinação política daquele governante que ambiciona ficar para a história da cidade do Rio de Janeiro porque fez a diferença, porque prometeu e cumpriu a queda vertiginosa dos altíssimos índices de criminalidade da cidade do Rio de Janeiro e porque resgatou o sentimento de otimismo dos cidadãos cariocas.

A cada episódio dramático que ocorre na cidade, com ou sem vítimas fatais, os comandantes dos Batalhões de Polícia Militar do bairro vitimado prometem aumentar o policiamento local. Tijuca, Avenida Brasil, Leblon..., Só muda o bairro. Sabemos que todo comandante tem interesse em fazer uma boa e eficiente gestão frente à Unidade pela qual é responsável, mas cabe ao governo do estado proporcionar-lhes as condições mínimas de infra-estrutura e um suficiente efetivo de Policiais que lhes possibilitem planejar a estratégia e logística de policiamento essencialmente básica, mas otimizada, para as ruas da cidade do Rio de Janeiro.

O investimento em segurança pública, neste momento, não deve ser somente em carros novos e alguns poucos equipamentos. É urgente a necessidade de se investir no ser humano, no homem Policial que está sem motivação e sem o devido reconhecimento de seus esforços em defesa da população e, com todo o respeito que nutro pelas autoridades competentes, menos ainda da própria Corporação da qual ele faz parte. A impressão que se tem é que muitas dezenas ou centenas de Policiais, atualmente, sequer têm interesse na atividade precípua da sua profissão: ser Policial. Com a percepção de péssimos salários – um dos piores do país – estes Policiais têm mais interesse no seu trabalho de bico, porque lhe rende uma remuneração bem melhor do que aquela que a instituição policial lhe paga. É uma distorção. O bico, muitas vezes, é uma atividade ambígua: assim como pode ajudar a garantir melhores condições de vida a milhares de famílias de Policiais, também pode propiciar conflito de interesses e corrupção.

O contribuinte precisa confiar na Polícia, que é paga para garantir absoluta segurança e a percepção dela pelos cidadãos de bem, ao contrário do que ocorre hoje, por força das atuais circunstâncias, que de novas não tem nada, mas comprovam um excessivo aumento no grau de violência. Omissões e falta de investimento de governos anteriores não justificam a falta de iniciativa e vontade política agora para minimizar drasticamente a situação de desespero e medo na qual o carioca se encontra nesta outrora Cidade Maravilhosa.

Gabam-se as autoridades de que o Rio de Janeiro recebeu em torno de 700 mil turistas neste Carnaval. É pouco, pouquíssimo, pela gama de lazer, cultura e natureza que a cidade pode oferecer a seus convidados.

PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DO JB DE 17 de março de 2009.
http://jbonline.terra.com.br/leiajb/noticias/2009/03/17/sociedadeaberta/nao_ha_mais_como_esperar.asp

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