terça-feira, 29 de abril de 2008

Diálogo Entre Policiais

Mensagens Eletrônicas - Diálogo Entre Policiais


MAJOR WANDERBY:

Senhor Tenente – Coronel,

Acabo de ler a entrevista do Senhor.

Na sexta-feira, desgraçadamente, recebi a missão de coordenar uma operação bélica na Cidade de Deus.

Tenho dificuldades em trabalhar no que não acredito.

Desgraçadamente também e apesar de tudo o que disse para a tropa e para os oficiais comandantes de fração, três idosas foram baleadas e uma morreu (e minha consciência me incomoda - segundo meu Comandante, eu estaria romantizando a questão). O que disse quanto à verdadeira prioridade (PRESERVAR VIDAS, PRINCIPALMENTE, DE INOCENTES) não valeu de nada.

O Senhor concordava com a política adotada no Alemão no início da gestão do Coronel Ubiratan?

Saudações.

Wanderby – Major


TEN CEL CARBALLO:

Prezado Amigo,

Durante 24 anos no serviço ativo da Corporação amargurei profundas frustrações profissionais.

Em diversas ocasiões ao longo da minha carreira, tanto em relação à tropa quanto em relação à sociedade, fui omisso permissivo, subserviente, irresponsável e tantos outros adjetivos quantos forem necessários para expressar o imobilismo histórico que caracterizou e ainda caracteriza a atitude de muitos oficiais e praças da nossa quase bicentenária Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Não obstante, nem tudo foi e nem tem sido um pesar. Também tive a grata satisfação de conhecer excelentes oficiais como, por exemplo, você.

Contudo, apesar de ter vivenciado alguns momento de ceticismo, sempre tive a coragem e a capacidade (ou talvez a ingenuidade) de renovar minhas expectativas e esperanças a cada mudança de governo, acreditando verdadeiramente que ainda havia razões para acreditar e perseverar na luta para a consecução dos ideais nobres a partir e dentro da própria Corporação.

Caríssimo Wanderby, eu sempre acreditei e acredito no que faço. O meu momento sublime na carreira profissional foi quando tive a oportunidade de conceber, coordenar e comandar o 1º GPAE com todas as dificuldades e obstáculos criados pela Corporação, porém sem qualquer tipo espaço concedido para que ocorresse interferência institucional negativa (portanto, considero-me realizado profissionalmente, em parte). De lá pra cá (já se passaram quase oito anos) o que mudou de fato foi a minha visão de mundo e a concepção dos métodos para se alcançar a mudança.

É óbvio que eu não concordava e não concordo com a política que vem sendo adotada pela SESEG no Alemão desde a época do Coronel Ubiratan. Prova disso é o fato de ter apoiado e participado da reunião do Comandante Geral com os "40 da Evaristo" no QG e da 1ª manifestação que vocês promoveram antes do PAN na orla de Copacabana.

Contudo, em razão de algumas reações criminosas atípicas promovidas por marginais da Lei associados à dinâmica do tráfico de drogas no Alemão, principalmente nos meses de março e abril de 2007, que configuraram uma situação de grave perturbação da ordem pública, numa manifestação objetiva e explícita de afronta ao Estado Democrático de Direito, acredito que o Estado não poderia deixar de adotar uma rígida medida de repressão qualificada.

Por isso considero que à época desses acontecimentos, deveriam ser desencadeadas ações verdadeiras de impacto. O que ocorreu por ocasião da famigerada MEGA OPERAÇÃO foi tão somente um fax-símile de tudo o que vem ocorrendo nos últimos 25 anos, pelo menos. É por essa e por outras razões que defendo publicamente a decretação do Estado de Defesa para determinados espaços geográficos da nossa cidade.

Hoje, sinto – me mais leve como participante do Movimento Segurança Cidadã (MSC), liberto dos grilhões, que de certa forma me aprisionaram à perversa lógica do corporativismo e da lealdade militar em detrimento da melhoria da qualidade de vida do policial e, em última instância, de toda a população do nosso estado.

"Agradeço" às declarações do atual SESEG (O Dia, 27/01/08) e do Senhor Governador que me ajudaram a compreender que as mudanças somente ocorrerão, infelizmente, de fora para dentro da Corporação e também reforçaram a crença de que um novo modelo de segurança pública para o Brasil somente será desenvolvido por policiais verdadeiramente cidadãos.

NÃO DESANIME!

SIGAMOS EM FRENTE!

JUNTOS, SOMOS FORTES!

Observação: Se você não se opuser gostaria de postar essa troca de e-mail no meu blog.

Aguardo sua autorização.


MAJOR WANDERBY:

Senhor Tenente Coronel,

Perdoe se fui inoportuno no questionamento, mas realmente tive a dúvida.

Quanto à publicação do teor dos e – mails, fique à vontade.

Saudações.

Wanderby – Major


TEN CEL CARBALLO:

Meu caro amigo você nunca foi e creio que jamais será inoportuno nos seus questionamentos.

Saudações fraternais,

Carballo.

Um comentário:

Alexandre, The Great disse...

O que se vê é o diálogo sincero e corajoso de dois verdadeiros PROFISSIONAIS DE SEGURANÇA PÚBLICA.
O que não se compreende é o fato do Estado se dar ao luxo de prescindir ou sub-aproveitar esta mão de obra qualificada.
Lamentável...