Mensagens Eletrônicas - Diálogo Entre Policiais
MAJOR WANDERBY:
Senhor Tenente – Coronel,
Acabo de ler a entrevista do Senhor.
Na sexta-feira, desgraçadamente, recebi a missão de coordenar uma operação bélica na Cidade de Deus.
Tenho dificuldades em trabalhar no que não acredito.
Desgraçadamente também e apesar de tudo o que disse para a tropa e para os oficiais comandantes de fração, três idosas foram baleadas e uma morreu (e minha consciência me incomoda - segundo meu Comandante, eu estaria romantizando a questão). O que disse quanto à verdadeira prioridade (PRESERVAR VIDAS, PRINCIPALMENTE, DE INOCENTES) não valeu de nada.
O Senhor concordava com a política adotada no Alemão no início da gestão do Coronel Ubiratan?
Saudações.
Wanderby – Major
TEN CEL CARBALLO:
Prezado Amigo,
Durante 24 anos no serviço ativo da Corporação amargurei profundas frustrações profissionais.
Em diversas ocasiões ao longo da minha carreira, tanto em relação à tropa quanto em relação à sociedade, fui omisso permissivo, subserviente, irresponsável e tantos outros adjetivos quantos forem necessários para expressar o imobilismo histórico que caracterizou e ainda caracteriza a atitude de muitos oficiais e praças da nossa quase bicentenária Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Não obstante, nem tudo foi e nem tem sido um pesar. Também tive a grata satisfação de conhecer excelentes oficiais como, por exemplo, você.
Contudo, apesar de ter vivenciado alguns momento de ceticismo, sempre tive a coragem e a capacidade (ou talvez a ingenuidade) de renovar minhas expectativas e esperanças a cada mudança de governo, acreditando verdadeiramente que ainda havia razões para acreditar e perseverar na luta para a consecução dos ideais nobres a partir e dentro da própria Corporação.
Caríssimo Wanderby, eu sempre acreditei e acredito no que faço. O meu momento sublime na carreira profissional foi quando tive a oportunidade de conceber, coordenar e comandar o 1º GPAE com todas as dificuldades e obstáculos criados pela Corporação, porém sem qualquer tipo espaço concedido para que ocorresse interferência institucional negativa (portanto, considero-me realizado profissionalmente, em parte). De lá pra cá (já se passaram quase oito anos) o que mudou de fato foi a minha visão de mundo e a concepção dos métodos para se alcançar a mudança.
É óbvio que eu não concordava e não concordo com a política que vem sendo adotada pela SESEG no Alemão desde a época do Coronel Ubiratan. Prova disso é o fato de ter apoiado e participado da reunião do Comandante Geral com os "40 da Evaristo" no QG e da 1ª manifestação que vocês promoveram antes do PAN na orla de Copacabana.
Contudo, em razão de algumas reações criminosas atípicas promovidas por marginais da Lei associados à dinâmica do tráfico de drogas no Alemão, principalmente nos meses de março e abril de 2007, que configuraram uma situação de grave perturbação da ordem pública, numa manifestação objetiva e explícita de afronta ao Estado Democrático de Direito, acredito que o Estado não poderia deixar de adotar uma rígida medida de repressão qualificada.
Por isso considero que à época desses acontecimentos, deveriam ser desencadeadas ações verdadeiras de impacto. O que ocorreu por ocasião da famigerada MEGA OPERAÇÃO foi tão somente um fax-símile de tudo o que vem ocorrendo nos últimos 25 anos, pelo menos. É por essa e por outras razões que defendo publicamente a decretação do Estado de Defesa para determinados espaços geográficos da nossa cidade.
Hoje, sinto – me mais leve como participante do Movimento Segurança Cidadã (MSC), liberto dos grilhões, que de certa forma me aprisionaram à perversa lógica do corporativismo e da lealdade militar em detrimento da melhoria da qualidade de vida do policial e, em última instância, de toda a população do nosso estado.
"Agradeço" às declarações do atual SESEG (O Dia, 27/01/08) e do Senhor Governador que me ajudaram a compreender que as mudanças somente ocorrerão, infelizmente, de fora para dentro da Corporação e também reforçaram a crença de que um novo modelo de segurança pública para o Brasil somente será desenvolvido por policiais verdadeiramente cidadãos.
NÃO DESANIME!
SIGAMOS EM FRENTE!
JUNTOS, SOMOS FORTES!
Observação: Se você não se opuser gostaria de postar essa troca de e-mail no meu blog.
Aguardo sua autorização.
MAJOR WANDERBY:
Senhor Tenente Coronel,
Perdoe se fui inoportuno no questionamento, mas realmente tive a dúvida.
Quanto à publicação do teor dos e – mails, fique à vontade.
Saudações.
Wanderby – Major
TEN CEL CARBALLO:
Meu caro amigo você nunca foi e creio que jamais será inoportuno nos seus questionamentos.
Saudações fraternais,
Carballo.
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Um comentário:
O que se vê é o diálogo sincero e corajoso de dois verdadeiros PROFISSIONAIS DE SEGURANÇA PÚBLICA.
O que não se compreende é o fato do Estado se dar ao luxo de prescindir ou sub-aproveitar esta mão de obra qualificada.
Lamentável...
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