Rio: milícia fatura R$ 17 milhões para candidatos próprios
Milícias têm utilizado negócios criminosos para faturar milhões em prol das campanhas de seus candidatos próprios impostos à força aos moradores, sob ameaça de armas.
Somente um grupo, da zona oeste do Rio de Janeiro, teria faturado neste ano cerca de R$ 17 milhões. Esses "currais eleitorais", controlados pelo tráfico de drogas, são enfrentados por mais de 500 mil eleitores.
O coordenador de fiscalização do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Luiz Márcio Victor Alves Pereira, admitiu a gravidade do contexto. "Trata-se de uma questão de segurança pública", disse. Pereira convocou a Polícia Federal e o Ministério Público Eleitoral para agir contra os donos dos currais.
Em mais de 600 favelas no Rio, os grupos criminosos impedem o livre trânsito de candidatos a prefeito e vereadores e ainda impõem seus próprios candidatos aos moradores.
Dos 4,5 milhões de eleitores do município, 11% - ou seja, cerca de 500 mil pessoas - vivem em territórios dominados pelo tráfico ou pelas milícias e formam os chamados "currais eleitorais".
Os números de votos de cabresto equivalem a quase um terço do que foi necessário para manter Cesar Maia, em 2004, no Palácio da Cidade (1,7 milhão de votos) ou eleger pelo menos 25 dos 50 vereadores da cidade, cada um com mais de 20 mil votos.
A situação é tão grave que o TRE já convocou a Polícia Federal para garantir a liberdade aos candidatos e eleitores.
O tráfico de drogas ainda controla a maioria das favelas do Rio, mas as milícias avançam e, pelo menos 100 dessas comunidades - a maior parte nas zonas oeste e norte - vivem sob seu jugo, segundo levantamento recente da Secretaria de Segurança Pública do Estado.
O governador Sérgio Cabral Filho, de Brasília, anunciou ontem que aceita, sim, a ajuda da PF para garantir no Rio o exercício constitucional do livre ir e vir de candidatos pela cidade.
Há pelo menos duas décadas que política e tráfico se tornaram assuntos um tanto quanto mesclados no Rio. Fenômeno mais recente é o das milícias eleitoreiras, surgidas há menos oito anos, segundo a própria polícia.
A prisão, na noite de segunda-feira, do deputado estadual Natalino Guimarães (DEM) representou um golpe em bando miliciano da zona oeste, a despeito da ousadia da reação a tiros dos acusados.
Segundo o secretário estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, a prisão do deputado desarticula a milícia Liga da Justiça. "Podemos dizer que grande parte dela (a milícia) está desarticulada. É uma milícia que não se compara a nenhuma outra, mas o trabalho continua", disse. De acordo com o secretário, a Polícia Civil continuará realizando operações deste tipo, mesmo que parlamentares estejam envolvidos.
O titular da 35ª Delegacia de Polícia (Campo Grande), Marcus Neves, afirmou que os integrantes da milícia recebiam de R$ 300 a R$ 1,7 mil por mês. "Natalino comandava cerca de 15 homens dentro de sua casa no momento em que nós chegamos na residência. Apreendemos várias armas e estávamos preparados. Chegamos com 30 agentes, recebemos reforço e conseguimos realizar nosso trabalho."
Neves citou 43 pessoas no inquérito sobre a atuação da milícia de Campo Grande. De acordo com as investigações, a organização arrecadava R$ 4 milhões por mês quatro anos atrás e, atualmente, R$ 1,8 milhão, devido à repressão das autoridades.
O secretário de Segurança citou que houve redução de 50% no número de homicídios nos bairros de Realengo, Bangu e Campo Grande no mês de junho de 2008, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Com informações do JB.
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