terça-feira, 30 de junho de 2009

Balanço da Segurança

Editorial publicado no jornal "O Globo" de 29 de junho de 2009.




OUTRA OPINIÃO (Texto integral, sem cortes de edição) :


POR QUE SE MATA TANTO?


Em Janeiro de 2007 dei início ao movimento Rio de Paz. Sua meta é a redução das mortes violentas no Brasil. Lidando com o nosso problema social mais grave fiz descobertas assustadoras.


Em primeiro lugar, conheci a extensão da dor do parente de vítima. Nunca vi sofrimento maior do que o de pais perante o corpo de um filho assassinado. O que tenho visto nesses enterros jamais sairá da minha memória. Luto para não ver mais famílias passando por dor tão devastadora.


Em seguida, chamou-me a atenção o fato de que o número de mortes violentas no estado do Rio é maior do que o oficial. No registro oficial de assassinatos não aparecem, por exemplo: encontro de ossada, encontro de cadáver, desaparecidos registrados que estão mortos e desaparecidos não registrados que foram assassinados. Pessoas estão sendo incineradas vivas, devoradas por animais famintos (porco e jacaré), dissolvidas em ácido e lançadas nos cemitérios clandestinos que estão espalhados pela região metropolitana do Rio.


Atônito com tudo isso, resolvi no dia 16 de Dezembro de 2008, enviar uma carta protocolada ao governador. Apresentei os seguintes pedidos: 1. Apresentação da meta e planejamento para a redução da violência letal intencional. 2. Pesquisa sobre os desaparecidos (11 000 aproximadamente desde Janeiro de 2007). 3. Acesso diário aos bancos de dados policiais das delegacias e batalhões a fim de que haja um monitoramento de todas as ocorrências de mortes violentas intencionais e os casos de desaparecimento. 4. Diálogo regular com representantes da sociedade civil. Infelizmente não obtive resposta para a carta. Enviei-a novamente em Março. Mais uma vez não fui atendido.


O estado está sangrando, pais estão enterrando filhos assassinados, os números inaceitáveis de mortes violentas dos governos anteriores continuam os mesmos, representantes da sociedade civil buscam informação de interesse público e tem que lidar com o silencio de quem deve explicação a 16 milhões de pessoas.


Após 5 meses de espera tratei de buscar ajuda no nosso parlamento. No dia 11 de Maio último fizemos na Alerj a manifestação das 17.000 pedras brancas. O ato público pacífico ecoou no nosso parlamento. Passamos um abaixo-assinado pedindo apoio à carta que enviamos ao governador. Temos 70 deputados. Até agora já obtivemos 43 assinaturas.


Logo após a manifestação pública na Alerj recebi uma carta do chefe de gabinete interino da Seseg. Fiquei desapontado. Não houve resposta objetiva. Continuo a perguntar: o que os leva a não impedir milhares de mortes?


Queremos cooperar com esse governo. É o nosso governo. O problema da violência não começou com ele. Sabemos que o quadro é tão grave que o poder público precisa da ajuda do todo da sociedade. Essa mesma sociedade, contudo, tem o direito de saber se essas 17.000 mortes violentas, que no mínimo ocorreram entre Janeiro de 2007 e Maio de 2009 (estimativa muito abaixo do número real), estavam previstas no cronograma da Secretaria de Segurança.



Antonio Carlos Costa

Presidente do Rio de Paz




MORAL DA HISTÓRIA: "SEM COMENTÁRIOS!"

Nenhum comentário: