sábado, 27 de junho de 2009

Drogas perdem espaço no mundo, mas ainda ameaçam humanidade, diz relatório.


24/06/09 - 11h01 - Atualizado em 24/06/09 - 12h28.

Em 2007, população global de usuários ficou entre 170 e 250 milhões.

Produção de cocaína é a menor dos últimos cinco anos.

Robson Bonin Do G1, em Brasília.


Encurralada pelo avanço dos órgãos de repressão em todo o planeta, a bilionária indústria das drogas passa por um processo de decadência em escala global. O uso de cocaína, maconha e opiáceos – ópio, morfina e heroína –, embora ainda predominante, vem perdendo usuários nos principais mercados do mundo.

Relatório divulgado nesta quarta-feira (24) pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), na sigla em inglês, mostra que, em termos de consumo, os maiores mercados de cocaína do globo (América do Norte e parte da Europa Ocidental), de maconha (América do Norte, Oceania e Europa Ocidental), e de opiáceos (Sudeste da Ásia e Europa Ocidental) estão estáveis ou em declínio.

A principal conseqüência dessa retração de mercados é a explosão da violência em países como o México, onde narcotraficantes disputam, palmo a palmo, o território. O que aumenta, segundo o estudo, a necessidade de os governos repensarem suas políticas públicas fortalecendo o enfrentamento ao crime, sem diminuir o combate às drogas.

Para saber mais:

Consumo de drogas aumenta no Brasil
http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,MUL1174524-16022,00-CONSUMO+DE+DROGAS+AUMENTA+NO+BRASIL.html



No caminho do tráfico, Brasil sofre com aumento de consumo de cocaína
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL615279-5603,00-NO+CAMINHO+DO+TRAFICO+BRASIL+SOFRE+COM+AUMENTO+DE+CONSUMO+DE+COCAINA.html



ONU: Brasil só perde para EUA no consumo de drogas
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL615587-5598,00-ONU+BRASIL+SO+PERDE+PARA+EUA+NO+CONSUMO+DE+DROGAS.html


“As estatísticas sobre drogas continuam falando em alto e bom som. O crescimento desenfreado observado no passado perdeu força e a crise dos anos 90 parece estar sob controle”, registra o diretor-executivo do UNODC, Antonio Maria Costa.

O documento, no entanto, identifica um crescimento no uso de uma série de compostos sintéticos – anfetaminas, metanfetaminas e ecstasy – em todas as regiões do mundo, sobretudo nos países em desenvolvimento.

Materializado em 314 páginas, o Relatório Mundial sobre Drogas 2009 é estruturado a partir de questionários preenchidos pelos países integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2008. O documento foi lançado simultaneamente em diversas cidades do mundo nesta quarta-feira, véspera do Dia Internacional contra o Tráfico e o Abuso de Drogas, celebrado em 26 de junho.

Cocaína

Produtora de metade da cocaína do planeta – um mercado que movimenta US$ 50 bilhões anuais –, a Colômbia teve, em 2008, uma redução de 18% no cultivo e uma queda de 28% na produção da droga, em comparação com 2007.

Apesar de pequenos aumentos observados na Bolívia (6%) e no Peru (4%), a área total de cultivo de coca diminuiu 8% em 2008, graças a uma redução considerável na Colômbia. A área total de cultivo de coca caiu para 167 hectares, muito inferior aos níveis atingidos na década de 1990. A produção da droga em 2008 foi de 845 toneladas, a menor dos últimos cinco anos e 15% inferior ao registrado em 2007.

Com cerca de 890 mil usuários de cocaína, o Brasil é o 10º país do mundo em apreensões da droga.

Usuários

O UNODC estima entre 170 e 250 milhões a população global de usuários de drogas em 2007. Esse grande número, no entanto, inclui consumidores casuais que podem ter experimentado a droga apenas uma vez durante todo o ano. Estimativas do UNODC apontam para a existência de algo entre 18 e 38 milhões de usuários problemáticos entre 15 e 64 anos em 2007.

Estima-se que o número de usuários de opiáceos, em 2007, varie entre 15 e 20 milhões de pessoas. Já o volume de consumidores de cocaína ficou entre 16 e 21 milhões nesse mesmo período. O número global de pessoas que usaram maconha ao menos uma vez em 2007 variou entre 143 e 190 milhões em 2007. O UNODC contabiliza entre 16 e 51 milhões as pessoas entre 15 e 64 anos que usaram anfetaminas. E entre 12 e 23 milhões as que usaram ecstasy ao redor do mundo.

Dados de 2005 revelam que o número total de usuários de drogas tratados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), excluindo relacionados a álcool e nicotina, bateu na casa dos 850 mil.

Maconha, heroína e ópio.

A maconha continua sendo a droga mais cultivada e consumida em todo o globo. Estimar a área global de cultivo, segundo o UNODC, "é consideravelmente mais complicado", já que a droga é produzida em quase todos os países e pode ser cultivada em locais fechados e abertos. A área estimada para a produção ao ar livre de maconha em 2008 varia de 200 mil a 642 mil hectares. Estima-se que a produção total de maconha varie entre 13,3 mil toneladas e 66,1 mil toneladas, e a de haxixe, entre 2,2 mil toneladas e 9,9 mil toneladas.

Dados de 2006 mostram os mais altos índices de uso de maconha entre os estudantes na América do Sul no Chile (12,7%), seguido por Uruguai (8,5%), Colômbia (7,1%), Argentina (6,7%) e o Brasil (5,1%).

O cultivo de ópio no Afeganistão, responsável por 93% da produção mundial, diminuiu 19% em 2008. Em 2007, as apreensões de ópio e de heroína cresceram 33% e 14%, respectivamente.

Anfetaminas.

Assim como a maconha, estimulantes de tipo anfetamina podem ser produzidos em qualquer lugar e por um preço relativamente baixo. Fábricas foram descobertas em 60 países, desde 1990. Em 2007, o UNODC calcula que entre 231 e 667 toneladas foram fabricadas, e estima uma produção entre 72 e 136 toneladas de ecstasy. Nesse mesmo período, as apreensões globais cresceram, totalizando 52 toneladas.

Originário principalmente de canais lícitos, o mercado de anfetaminas no Brasil apresenta as maiores taxas anuais de prevalência do continente. Segundo o relatório, em 2007, Argentina e Brasil tiveram, respectivamente, o segundo e o terceiro maiores índices estimados de uso de estimulantes no mundo. “Entre 2001 e 2005, o uso de substâncias do grupo anfetamina na população geral das áreas urbanas brasileiras mais que dobrou, passando de 1,5% para 3,2%, principalmente por conta do alto uso entre alunos secundaristas (3,4%)”, constata o estudo.

Drogas injetáveis.

As drogas injetáveis foram documentadas em 148 países, compreendendo 95% da população mundial. Estima-se que entre 11 e 21 milhões de pessoas ao redor do globo usam drogas injetáveis. As maiores populações de usuários estão na China, nos EUA, na Rússia e no Brasil, que somam 45% do total de consumidores dessas substâncias no mundo.

A injeção de droga é responsável pelo aumento das infecções por HIV. Segundo o relatório, o contágio entre usuários de drogas injetáveis já foi constatado em 120 países. Estima-se que entre 0,8 e 6,6 milhões de usuários estejam infectados pelo vírus da Aids em todo o mundo.

Em 2008, 48% dos usuários de drogas injetáveis no Brasil estavam infectados com o vírus HIV. O País é o terceiro colocado na relação de países com usuários de drogas injetáveis infectados pela Aids. O primeiro é a Estônia (72,1%) e, em segundo, está a Argentina (49,7%).

Ecstasy.

Na América Latina, o estudo constata um crescimento preocupante no consumo de ecstasy, principalmente entre jovens das áreas urbanas. Dados do Brasil mostram um aumento no número de apreensões de comprimidos, com mais de 210 mil apreendidos em 2007. “O aumento nas apreensões pode estar relacionado à produção doméstica de ecstasy, considerando que o primeiro laboratório clandestino foi descoberto no país em 2008”, registra o relatório.

Em 2008, a Polícia Federal desmantelou, no Paraná, o primeiro laboratório clandestino de ecstasy do país. Entretanto, vem da Europa a maior parte do ecstasy consumido no Brasil.

Legalização das drogas.

O relatório da UNODC também aborda temas polêmicos como o debate sobre a liberação das drogas. O diretor-executivo do UNODC, Antonio Maria Costa, argumenta que, à medida que as administrações nacionais buscam novas fontes de receita durante a crise econômica atual, a legalização é defendida mediante a cobrança de pesados impostos sobre os usuários. “Esse argumento legalize e taxe é antiético e antieconômico. Ele propõe uma taxa perversa, de geração sobre geração, em cima de grupos marginalizados (entregues ao vício), a fim de estimular a recuperação econômica”, registra Costa.

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