segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Rio de Janeiro - Retrospectiva 2008: um ano de tragédias anunciadas.










Oficiais da PM do Rio pedem exoneração em protesto contra Beltrame.


RIO DE JANEIRO - A crise da Polícia Militar do Rio se agravou na noite de terça-feira. Em reunião no Clube de Oficiais da PM, 41 comandantes de batalhões decidiram colocar seus cargos à disposição do governador, Sérgio Cabral, como forma de protesto. Os oficiais estão insatisfeitos com as mudanças feitas pelo secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, no comando da PM. Segundo o “RJ TV”, da TV Globo, eles estão reunidos no Quartel da PM no centro e cerca de 30 já protocolaram sua saída.


PMs fazem ato contra mortes em serviço na praia de Copacabana.


Integrantes da Associação de Oficiais Militares do Rio fincaram 586 cruzes de madeira nas areias da praia de Copacabana (zona sul do Rio), na manhã desta sexta-feira. O ato é uma homenagem aos PMs que foram mortos em serviço entre 2004 e 2007, de acordo com o coronel da PM Adilson Fernandes, gerente da associação.


+ Ágata Marques dos Santos


Menina morre em operação na Rocinha. Jovem de 11 anos levou tiro na cabeça durante incursão da Polícia Civil.


Rio - Uma menina identificada como Ágata Marques dos Santos, de 11 anos, morreu, na tarde desta sexta-feira, em uma operação que a Polícia Civil realiza na Favela da Rocinha, São Conrado, Zona Sul do Rio.


Ela estava na janela de casa, que fica na parte mais alta da comunidade, quando foi atingida na cabeça. A menina chegou a ser levada para o Hospital Miguel Couto, na Gávea, mas não resistiu ao ferimento.


+ Willian de Souza Marins.


PMs acusados de execução. Cantor de banda evangélica morreu com três tiros quando seguia para apresentação em templo.


Rio - Em clima de revolta, pelo menos 200 pessoas acompanharam ontem de manhã, no Cemitério do Murundu, em Realengo, o enterro do cantor da banda gospel Orlit, Willian de Souza Marins, de 19 anos. Morador da Favela do 48, em Bangu, o rapaz foi morto por volta das 18h15 de domingo, na Rua Natal, na mesma localidade, durante suposta operação de uma equipe do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 14º BPM (Bangu).


Prisão de Álvaro Lins partiu de denúncia do MPF.


RIO - Durante a Operação Segurança Pública S/A, realizada desde as 6h desta quinta-feira, a Polícia Federal prendeu o ex-chefe de Polícia Civil e deputado estadual Álvaro Lins (PMDB/RJ). O ex-governador Anthony Garotinho também foi denunciado por crime de formação de quadrilha armada.


Milícias - Política do Terror: Detalhes da história.


Rio - A noite do dia 14 de maio não terminou para a equipe de O DIA que fazia reportagem especial na Favela do Batan, Zona Oeste. Repórter e fotógrafo completavam 14 dias vivendo no local e a ansiedade natural do grupo – que sabia estar em território inimigo e tomava todos os cuidados para não chamar a atenção – deu lugar a um desconfiado otimismo, depois que moradores da favela convidaram parte da equipe para uma cerveja no Largo do Chuveirão. Fotógrafo e motorista, que havia se unido ao grupo, aceitaram o convite. A repórter ficou em casa, para não desobedecer a velada ordem da favela, que lança olhares de reprovação a mulheres desfrutadoras da noite.


+ David Wilson Florêncio da Silva.

+ Wellington Gonzaga Costa.

+ Marcos Paulo da Silva.


Oficial planejou entregar jovens a traficantes rivais, diz polícia do Rio.


A Polícia Civil do Rio afirma que um tenente teria arquitetado a entrega dos três rapazes do morro da Providência (região central) aos traficantes do morro da Mineira, no sábado (14).


O oficial está entre os 11 militares presos apontados como os responsáveis pelo crime. A favela da Mineira é controlada pela facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos), rival do CV (Comando Vermelho), que controla o morro da Providência.


+ João Roberto Soares


"Faltou preparo", diz Beltrame sobre ação da polícia que teria baleado menino no Rio.


RIO DE JANEIRO - O Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, classificou como "tragédia" e disse que "faltou preparo" na ação policial que deixou o menino João Roberto de Amorim Soares, de 3 anos, baleado na cabeça na noite do domingo.


+ Luiz Carlos Soares da Costa.


Beltrame diz que PMs envolvidos em morte agiram corretamente.


O secretário estadual de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame disse nesta terça-feira que os policiais militares envolvidos na ação que resultou na morte do administrador Luiz Carlos da Costa, 36, agiram "corretamente". Beltrame afirmou ainda que, ao revidar tiros do suposto assaltante de Costa, os policiais atiraram contra os pneus do carro do administrador.


+ Joel de Almeida Gomes.

+ Francisco Silva Pereira Junior.


Bandidos disparam 18 tiros de fuzil e pistola em carro da PM e matam 2.


Rio - O sargento Joel de Almeida Gomes, 40 anos, e o cabo Francisco Silva Pereira Júnior, 34, do 23º BPM (Leblon), foram executados a tiros de pistola e fuzil, às 5h30 de ontem, dentro da patrulha 54-3322, parada em frente ao número 197 da Rua Fonte da Saudade, esquina com a Rua Sacopã, na Lagoa. O crime foi cometido por dois bandidos que saltaram de um Honda New Civic e acertaram 18 disparos no Gol da PM.


+ Cleyde Prado


Morre mãe de Gabriela Prado.


RIO - Cleyde Prado Maia, de 51 anos, mãe da estudante Gabriela Prado Maia Ribeiro, morta por uma bala perdida durante um assalto na Tijuca, em 2003, teve morte cerebral constatada, na tarde desta quinta-feira. De acordo com o ex-marido dela e pai de Gabriela, Carlos Santiago, Cleyde está sendo mantida viva com o auxílio de aparelhos. aparelhos.


Ainda segundo Carlos Santiago, Cleyde tinha problemas de pressão alta e passou mal na casa da mãe, na manhã desta quinta-feira. Ela foi levada inicialmente para o Hospital São Victor, na Tijuca, e posteriormente para a Clínica Enio Serra, em Laranjeiras, onde está internada. A mãe de Gabriela foi vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).


+ Jorge Kauã


“Quero abraçar o policial que tentou salvar meu filho”, diz mãe de menino morto no Rio.


RIO DE JANEIRO – Com muita emoção, Helen da Silva Lacerda, mãe de Jorge Kauã, de 4 anos, despede-se do menino morto nesta quarta-feira, durante uma operação da polícia na favela da Coréia, na zona oeste do Rio. “Quero só abraçar o policial que tentou salvar meu filho”, disse. O corpo do garoto foi enterrado às 16h20 desta quinta-feira no Cemitério de Irajá, subúrbio da cidade.


+ Matheus Rodrigues Carvalho.


Corpo de menino morto na Maré é enterrado no Rio. Moradores acusam policiais militares de terem disparado contra o garoto de 8 anos, que saía de casa.


SÃO PAULO - O corpo do menino Matheus Rodrigues Carvalho, de 8 anos, morto com um tiro de fuzil na Favela Baixa do Sapateiro, foi enterrado nesta sexta-feira, 5, no Cemitério São Francisco do Xavier, no bairro do Caju. Durante a cerimônia, uma testemunha chegou a afirmar que viu um policial militar atirar, sair chorando e largar a arma dizendo "matei uma criança". Matheus foi atingido por um tiro no pescoço na manhã da quinta-feira, 4, na Baixa do Sapateiro, uma das favelas do Complexo da Maré, na zona norte do Rio.


+ João Rodrigo Silva de Paula.

+ Larissa Lima Félix.

+ Jackson Martins Campos.

+ Jhonny Izaias Barbosa.


Pais choram as mortes dos filhos no Parque União. Segundo familiares algumas vítimas eram moradores e não tinham ligação com o tráfico.


Rio - "Estava em casa, preparando quentinhas para vender no dia seguinte quando ouvi muitos tiros. Na hora lembrei que meu filho estava na rua. Quando saí, já o encontrei caído, morto. Foi uma covardia! Ele estava passando na rua e foi atingido gratuitamente", revoltou-se a dona-de-casa Eliane Nascimento da Silva, mãe de João Rodrigo.


+ Rafael de Oliveira Santos.

+ Paulo Marcos da Silva Leão.


Famílias de dois rapazes mortos em Brás de Pina revoltam-se com ação.


Rio - “Essa é a polícia que temos. Que atira para depois ver em quem acertou. Que só pensa em matar. Uma polícia despreparada. Quantos filhos inocentes ainda vão morrer?”. A pergunta em tom de desabafo foi feita ontem, no Instituto Médico-Legal (IML), por José Antônio Bezerra dos Santos, 46 anos, pai do soldado do Exército Rafael de Oliveira Santos, 21, morto terça-feira ao lado do amigo, o vigilante Paulo Marcos da Silva Leão, 26, durante perseguição policial a três bandidos que os mantinham reféns em um assalto em Brás de Pina.



ARTIGO SELECIONADO


Sábado, 12 de julho de 2008, 08h00.


Polícia atual teria matado Chico Buarque, diz juiz.

Alessandro da Silva*


A semana começou com a notícia da morte do menino João Roberto Amorim Soares, de 3 anos, vítima da ação de dois policiais militares na cidade do Rio de Janeiro. As imagens do circuito de TV do edifício em cuja frente o triste fato se deu revelam que os policiais saíram da viatura e imediatamente abriram fogo contra o carro no qual estavam a mãe, um bebê de nove meses e o pequeno João.


A dor dessa família comoveu o país. A mãe ainda está em estado de choque. O pai mostrou toda a indignação em desabafos que expuseram a crueza dos sentimentos experimentados.


Como superar tamanha tragédia? De novo, mais uma vez, outra família destroçada pela conduta dos representantes do Estado.


Os policiais justificaram o equívoco alegando que confundiram o carro da família com o veículo no qual assaltantes armados estavam em fuga.


Da desgraça emerge uma clara constatação: a ação dos policiais tinha o objetivo de matar os ocupantes do veículo. Imaginavam que eram criminosos. Equivocaram-se.


Ainda assim, mesmo que se tratasse de assaltantes, a gravidade da conduta não seria menor.


Ora, nosso país vive em um pretenso estado democrático de direito, no qual o exercício do poder é limitado por normas gerais pré-estabelecidas - Constituição e leis - cuja observação é obrigatória. Essa concepção foi fundamental para a consolidação das liberdades individuais e coletivas, pois impede ou obstaculiza o exercício arbitrário e ilegal do poder. Dentre essas garantias individuais estão o banimento da pena de morte e a presunção de inocência.


Para a polícia do Estado do Rio de Janeiro, contudo, esses direitos nada valem.


As ofensas são cotidianas e escancaradas.


A ação que resultou na execução sumária do menino João Roberto não foi uma fatalidade. Foi fruto de uma política de segurança pública que fomenta o conflito e estimula o uso da violência por parte dos policiais.


No fim dos anos 90 o Rio de Janeiro adotou a chamada condecoração faroeste, que premiava e até promovia os policiais segundo a quantidade de execuções de supostos criminosos. Recentemente a Secretaria de Segurança anunciou que pagará aos policiais uma recompensa de até R$ 3.000,00 por cada fuzil recuperado. Pistolas e revólveres já rendem R$ 500,00.


No governo de Sérgio Cabral a política de enfrentamento foi intensificada, com freqüentes manifestações do chefe do executivo estadual no sentido de que esse é o caminho mais adequado.


Ainda quando as ações resultam na morte de inocentes, como o menino Jorge Cauã da Silva Lacerda, de 4 anos, trucidado em ação na favela da Coréia, o governador afirma que "a Secretaria de Segurança tem carta branca para agir contra os traficantes. Ela tem o meu estímulo para trabalhar nessa direção".


Na mesma ocasião o secretário José Mariano Beltrame defendeu a violência da ação, apesar das mortes de inocentes. "Mesmo morrendo crianças, não há alternativa. Esse é o caminho", afirmou.


No mais recente episódio dessa série de tragédias anunciadas, as autoridades mudaram de discurso. Cabral afirmou que os envolvidos serão expulsos da PM, visto que se trata de "assassinos", de "uma dupla de débeis mentais, sem discernimento". Beltrame classificou a ação de "desastrosa", motivada por falta de treinamento e raciocínio, e pediu desculpas à população e, em especial, aos familiares do menino.


Não. Não se trata de uma dupla de débeis mentais sem treinamento. Em verdade são policiais treinados para matar. Atirar primeiro, perguntar depois, eis a regra de conduta.


Tanto é assim que somente no ano de 2007 a polícia fluminense matou 1.330 pessoas. A quantidade aumentou em relação a 2006, quando o número de mortos chegou a 1063. Em 2008 parece que há um esforço concentrado para superar o recorde do ano anterior. Nos primeiros três meses do ano, foram registradas 358 mortes, o que representa um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2007.


Para se ter uma idéia da extensão do massacre, em todos os Estados Unidos a polícia mata cerca de 300 pessoas por ano. Só no Rio de Janeiro essa média é superada em quatro vezes.


A estratégia é mascarar as execuções por meio do registro de autos de resistência, nos quais os mortos são acusados de terem resistido à prisão e atacado a polícia.


Os policiais responsáveis pela morte de João Roberto também esperavam poder ocultar a execução dos supostos criminosos por meio do auto de resistência, mas os sinistros fatos que se seguiram inviabilizaram esse recurso.


Em 1961, o jovem Francisco de Hollanda, então com 17 anos, foi preso em São Paulo após furtar um veículo em companhia de outro jovem também menor. O rapaz levou uns safanões e dormiu uma noite na antiga Febem.


Se a polícia da época adotasse os métodos atuais, possivelmente o cantor e compositor Chico Buarque seria mais um a figurar dentre os mortos em confronto.


Não bastassem os atentados aos direitos dos eventuais infratores legais, essa política coloca em risco a segurança da população em geral. Não por acaso, são cada vez mais corriqueiros os casos de assassinatos de inocentes. Se nas favelas isso é fato notório, a truculência também tem chegado aos bairros de classe média.


Além do menino João Roberto, somente no último mês foram outros três casos de execução que vieram à tona.


A engenheira Patrícia Franco, 24 anos, está 24 dias desaparecida, depois que seu carro foi alvejado por tiros e despencou no canal de Marapendi, na Barra da Tijuca. A suspeita é de que dois policiais militares tenham assassinado a jovem e ocultado o corpo. A perícia já concluiu que as marcas de tiros no carro são compatíveis com o calibre das armas dos militares.


Em 30 de junho o menino Ramon Fernandes Dominguez, 6 anos, morreu vitimado por um tiro na cabeça, na favela do Muquiço, em Guadalupe, zona norte do Rio de Janeiro. A população da comunidade acusa policiais de terem disparado no meio da rua e ferido a criança.


No mesmo sábado, o jovem Daniel Duque, 18 anos, foi morto por um policial militar durante uma briga em frente a uma boate em Ipanema.


A relação entre a intensificação da desastrosa política de confronto e o aumento de vítimas fatais é patente.


Sendo assim, a responsabilidade ultrapassa a conduta individual dos agentes policiais e deve alcançar aqueles que implementaram esse modelo de comportamento, passando pelos oficiais responsáveis pelo treinamento e incidindo, em especial, nos homens que institucionalizaram a barbárie: o governador Sérgio Cabral e o secretário de segurança pública José Mariano Beltrame.


Alessandro da Silva é juiz do trabalho e membro do conselho de administração da Associação Juízes para a Democracia.


Fonte: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3003161-EI6578,00.html


Um comentário:

Wanderby disse...

Sr TC
Parabéns pela elucidativa postagem, da qual me permiti fazer um link.
Saudações.